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29/08/2012
Comecei o dia novamente praticando o "esporte" que deve se tornar o mais comum nesta viagem. Com o Sol tostando o meu rosto, às 8h30, me posicionei à beira da estrada, acenando para cada carro que passava em direção à capital quirguiz. Após perguntar na pousada, de antemão sabia qual preço era justo pagar pelo transporte de van ou táxi compartilhado de Tamchy a Bishkek. Ônibus quase não passam. Até aceitaria pegar um, são muito mais baratos - e muito mais desconfortáveis. Mas nenhum sequer desacelerou ao me ver.
A demora em conseguir encontrar transporte me deixou angustiado. Demorou 15 minutos até parar o primeiro veículo - a maioria deles já vinham cheios de Cholpon-Ata ou mesmo de Karakol, que é grande em comparação com outras cidades às margens do Issyk-Kul. Outro problema foi, com meu russo, negociar o preço justo. Acabei aceitando pagar 300 soms (aproximadamente US$ 4) por um lugar em uma van. O preço justo teria sido 250, mas eu já havia passado uma hora derretendo no acostamento.
Na viagem de volta, pelo mesmíssimo caminho da ida, percebi quão próximo eu estava da fronteira cazaque. Da janela da van, eu contei pelo menos dois postos de fronteira diretamente à direita da estrada, saindo da via só alguns metros. Na divisa internacional, fica o rio Chuy (que dá nome a esta região quirguiz). Boa parte da estrada depois do Desfiladeiro do Cadarço segue paralela ao Chuy, que por sua vez segue à beira de duas cercas altas. Fiquei imaginando se as cercas de arame são eletrificadas ou patrulhadas - elas parecem ser fáceis de passar por quem tiver ferramentas para cortar o arame.
O rio Chuy é verde e rápido. No Desfiladeiro do Cadarço, ele forma corredeiras perfeitas para o rafting. No trecho, ele deve ter quatro ou cinco metros de largura e, se esfregando nas pedras, forma um pouco de espuma branca. Parece limpo. Convidativo. Como seria dar uma mergulhada nele? Com o suor acumulado e as camadas de bloqueador solar, o devaneio me vinha como um consolo nas três horas até Bishkek.
* * *
Anoitecer na praça Ala Too. Um grupo de umas 200 pessoas se reúne no local para um ensaio final da apresentação que farão na comemoração do Dia da Independência do Quirguistão, comemorado em 31 de agosto. De crianças aparentando não mais que oito anos a adolescentes, elas fazem uma elaborada coreografia ao som de uma música patriótica, entoada por alto-falantes em uma van. Pulam, bate palmas, dão voltinhas e sorriem - sorriem muito. Uma das orientadoras não parece muito satisfeita com o ensaio, mas provavelmente não há tempo suficiente até a festa de independência para melhorar muito mais do que isso.
Os jovens na Ala Too são a perfeita representação da variedade étnica do país e da Ásia Central como um todo: há as crianças loirinhas de origem russa, as de olhinhos mais puxados, as mais branquinhas, provavelmente do norte, as mais morenas, provavelmente do sul. Os jovens mais velhos são fortes, mas não muito altos. Um grupo deles balança sem parar bandeiras vermelho-amarelas, as cores nacionais. Ao lado, alta e imponente, a estátua de Manas, o herói de um poema épico de séculos atrás que foi adotado pelo estado quirguiz como o centro da identidade do país - como o conquistador do século XIV Tamerlão (1336-1405) foi adotado no Uzbequistão e Ismail Samani (849-907), emir da dinastia persa samanida, no Tajiquistão.
Bishkek foi novamente rápida, para resolver problemas. Não me preocupou muito não conhecê-la bem. Eu sabia que, no final da minha viagem, estaria de volta por aqui. Meu plano é voltar em outubro para meus dois meses estudando na cidade, para tentar melhorar meu russo. Encontrei uma escola perfeita em minhas pesquisas pela internet, um lugar onde há muitos estrangeiros como eu tentando avançar no idioma. Resolvi o primeiro problema - fui até lá e paguei o meu depósito. O pessoal da secretaria me recebeu falando bom inglês e me senti muito bem-vindo.
Em segundo lugar, precisei comprar uma câmera. Optei pelo mesmo modelo de celular que eu perdi. Foi necessário muito esforço para encontrar uma loja na capital onde pudesse achar o aparelho e na qual eu pudesse pagar com cartão de crédito. E foi caro, mais de US$ 400, uma fortuna na moeda local. A ajuda do pessoal da escola foi imprescindível para achar a loja, que ficava em um prédio bem na Chuy, uma das avenidas centrais. O lugar era tão escondido que parecia que eu estava indo comprar drogas. Ia por perto perguntando às pessoas na rua. Muitas não sabiam onde era. Outras, respondiam cochichando e apontando para o edifício. Vou até o quinto andar, encontro uma salinha comercial. Sim, aqui mesmo. Felizmente, deu tudo certo.
Outro problema que tive que resolver foi arrumar de vez a mochila para a viagem. Em meu pulinho até o Issyk-Kul, permaneci sem dar check-out do meu "apartamento" no hotel em que me hospedei ao chegar a Bishkek. Assim pude deixar lá minhas coisas mais pesadas e ir passear tranquilo. Meu plano para o resto da viagem é deixar uma mala maior com roupas neste mesmo hotel e recolhê-la na volta. Me hospedarei aqui mais uma noite antes de me mudar para uma casa de família para o meu período como estudante. O hotel topou. Fiquei mais leve, mas praticamente sem espaço sobrando na pequena mochila. De roupa, levarei cuecas, meias, duas camisetas, um casaco e uma jaqueta para chuva, mais nada. Além disso, meu guia de turismo e um pequeno espaço sobrando para água, para colocar algo de comer e o que eu for comprando pelo caminho - como coleciono chapéus, sei que até o final da viagem vai faltar espaço.
Fui dormir ainda sem sono. Acordei cedinho com mais um dia lindo de sol. Estou particularmente feliz - vou rever Almaty.
Bishkek, 30/8, 8h30
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Na jovem república, a festa de independência é uma importante manifestação de orgulho
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