Wednesday 25 October 2017

Nos Desertos, nas Montanhas (VIII): Taraz

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2/9/2012

Um frio estranho na barriga.

Com os primeiros raios de sol, seis da manhã, o fiscal do trem bateu na porta do compartimento para avisar sobre a próxima parada. Eu já tinha acordado devido ao aviso do companheiro da cama ao lado. Arrumei tudo rápido e me coloquei à espera que a cidade chegasse, parado em frente a uma porta entre dois vagões. A janela da porta mostrava passando com velocidade, novamente, uma paisagem seca, vazia. As casas de Taraz foram aparecendo, aos poucos, à medida que o lusco-fusco ia dando lugar à nitidez. Mais nitidez, casas surgindo bem perto do trilho, e o trem para.

A tensão da minha saída "na marra" de Almaty ficou para trás, e abraço o otimismo. Penso: nada pode estragar meu humor. Meu guia, guardado num grande bolso na bermuda, diz claramente - em frente à estação de trem há uma parada de ônibus. O ônibus me deixaria exatamente na esquina que é um lugar perfeito para começar um passeio a pé e minha sessão de fotos matinal. Não vejo nuvens no céu. Tudo perfeito. Apesar do frio estranho na barriga.

O ônibus chega logo, o único que para no ponto, e o senhor cobrador não entendeu direito em qual rua eu queria descer. E eu não percebo que ele não entendeu. Ele começa a dirigir, mas me diz para descer logo, não dá uns cinco minutos de jornada. Penso: bom, é uma cidade pequena, se não for aqui, eu me encontro, deve haver alguma indicação, alguma referência. Desço. A esquina de uma avenida com outra. Totalmente vazia. 6h30 da manhã de um domingo.

Não demoro muito para perceber que estou perdido. Não vi nenhum prédio dos que esperava ver, não encontrei placas com os nomes das ruas, a direção das avenidas não batia com o que eu esperava ver na minha bússola. Isso já me acontecera antes, e a minha estratégia já pensada para esses casos, muito previsível, é sair perguntando, para quem eu encontrar, como chegar onde quero. Essa costuma ser uma boa ideia também para fazer um contato bem-humorado com os simpáticos moradores dos locais que visito. Neste caso, imaginei, bastava parar em algum lugar para tomar um café da manhã, comer algo - eu estava morrendo de fome, nada melhor mesmo.

Entretanto, na pacata Taraz, às 6h30 da manhã, ainda mais no que não parecia ser o centro da cidade, não havia uma alma viva. Ao meu redor, só poeira, árvores, casas e nenhum lugar para tomar café.

Andei sem rumo por uma meia hora. Continuei procurando o nome das ruas - e nada, nada, nada. Nenhuma placa indicando o centro ou algum lugar com um nome. Por fim, achei um taxista e mais um grupo de pessoas. O taxista estava em seu ponto, as pessoas, ali ao lado, em um restaurante (que ainda estava fechado; os garçons estavam fazendo limpeza). O taxista me deu uma explicação num russo muito rápido e difícil de compreender. Julguei ter entendido que o centro era bem perto e fácil de chegar, nada que justificasse pegar um táxi. Agradeci e segui meu caminho com as orientações que julguei ter entendido na cabeça. Mas, na saída, um jovem do grupo no restaurante, claramente não um dos garçons, me perguntou em inglês de onde eu era. Respondi, pensando que o sujeito de fato falava um pouco de inglês e poderia me ajudar, confirmando, pelo menos, o que eu havia entendido que o taxista havia dito.

Um grave, grave erro.

O sujeito - um jovem de uns 18 anos - estava ou bêbado ou drogado, ou os dois, e apenas achava que falava inglês. Não falava coisa com coisa. Sobre o lugar para onde eu ia (a rua que eu estava procurando), ele insistiu em saber exatamente o que eu queria ver lá. Eu estava indo para uns mausoléus, mas rapidamente percebi que, se eu falasse, ele ia querer ir comigo, e eu não queria companhia - especialmente não queria a companhia dele, bêbado. Não falei o que ele queria ouvir. Depois, o sujeito me disse que eu deveria ir para esquerda - o que me levaria de volta à estação ferroviária. Depois, o pior, ainda insistindo que queria "me ajudar", exigiu (exigiu) que eu fosse comprar roupas em uma loja que nem tinha aberto (de algum parente, talvez?). Depois disse que ia me chamar um táxi. Tentei explicar que não estava atrás da ajuda dele e só queria seguir as instruções do taxista e ir para o meu destino, a rua que eu buscava, e que eu preferia andar e procurar sozinho. Nada disso - eu ia ser ajudado por ele, sem discussão.

Decidi ignorar e sair andando na direção que o taxista me falou. Ele começou a me seguir. Continuei ignorando. Ele começou a ficar mais ameaçador, falando alto. Em dado momento, ele me alcançou e ficou na minha frente, berrando palavras sem significado nenhum para mim, bem alto.

Fiquei genuinamente com medo. Eu estava sozinho na rua com ele. Eu levava comigo todo meu dinheiro. Estava numa cidade desconhecida, ainda sem saber como chegar em algum lugar. Pensei em voltar, pedir para o taxista me levar, ou pedir ajuda no restaurante. Mas o taxista e o restaurante já tinham ficado bem para trás. Eu precisava de ajuda, e rápido, antes que aquele maluco pulasse no meu pescoço, o que ele parecia prestes a fazer.

Olhos nos olhos, ele gritando a dois metros de mim. Punhos fechados. Espumando pelos cantos da boca.

Olhei rapidamente ao redor. Eu estava em outra esquina. Lá perto, um senhor de meia idade estava varrendo a frente de sua loja fechada. Corri para ele e implorei - nessa altura com o russo ainda mais limitado do que o normal, por causa do nervosismo - para ele me ajudar. Disse que estava sendo perseguido por um bandido. Por um milagre, o senhor entendeu e disse para eu entrar na loja e trancou a porta.

Eu via o bêbado através da vitrine, gritando, cuspindo. Batendo com força no vidro. Dizendo, agora claramente, que o Cazaquistão é dos cazaques.

Passaram-se uns 20 minutos, e o maluco cansou de me esperar e desapareceu de vista. Ainda assim, temi que ele estivesse escondido em algum lugar e que pudesse me ver sair da loja. Pedi ao senhor que me indicasse onde eu poderia tomar café da manhã - de preferência um lugar entre quatro paredes. Mas não havia nenhum. A única coisa que havia era um hotel, do outro lado da rua, para o qual o senhor apontou pela janela. Não pensei duas vezes. Corri até lá. Entrei ofegante.

Mil e quinhentos tenge (cerca de US$ 13). Por essa quantia, entrei em um outro mundo em que eu (desesperadamente) precisava entrar. Era o buffet do hotel. Nada cinco estrelas: apenas garçonetes falando um russo compreensível e bem prestativas, mesas com talheres, pães, frutas, sucos, tudo à vontade, incluído no preço. Apesar de não ser um templo do luxo, era provavelmente era o melhor hotel da cidade. Que paraíso, que paraíso. Fiquei lá uma hora e meia, vendo os hóspedes se deliciarem, escrevendo meu diário, tomando litros de chá e, principalmente, ouvindo os principais sucessos de Julio Iglesias, tocados todos em sequência, repetidamente, baixinho, nos alto-falantes.


* * *

Recuperado do episódio de terror, mergulho na história.

Taraz tem orgulho de séculos. Como muitas cidades da ex-URSS, teve nomes e nomes. Taraz ou Talas (hoje nome de uma cidade vizinha, no Quirguistão) são os mais antigos. No século XIX se chamou Aulie-Ata. Depois, sob os soviéticos, recebeu o nome de um oficial soviético armênio, Mirzoyan, mas esse nome foi trocado quando Stálin, como fez com tantos, o executou durante os expurgos dos anos 30. Passou a se chamar Jambil e o nome persistiu até 1997, quando o presidente Nazarbayev, na sanha de restabelecer a identidade cazaque que antecedera a dominação russo-soviética, reverteu a cidade a seu nome ancestral. É tida como uma das mais velhas cidades do Cazaquistão, quiçá de toda a Ásia Central. O registro mais antigo estabelece que aqui foi construída uma fortaleza de uma confederação de nômades chineses há cerca de dois milênios. De fato, em 2001 a cidade comemorou, com o aval da Unesco, seus dois mil anos de existência.

Seu nome ecoa especialmente devido a talvez uma das batalhas mais importantes da história da Ásia. No ano 751, em algum lugar que não se sabe exatamente onde fica no vale do rio que passa pela cidade e sua vizinha Talas, os exércitos da Dinastia Tang da China e do Califado árabe Abássida se encontraram e cruzaram suas espadas. Historiadores atribuem à derrota dos chineses o fato de o Islã ter se firmado na Ásia Central, ajudando a diminuir a influência chinesa sobre a região.

Refletindo isso, a cidade tem alguns tesouros islâmicos. Visitei dois mausoléus no centro da cidade, o mausoléu Kharakhan e o Dauitbek. O primeiro, uma reconstrução do século 20 de uma estrutura do khanato karakhanida (dinastia que dominou vastas áreas da Ásia Central entre 840 e 1212, fazendo de Taraz uma de suas capitais), guardaria os restos de Kharakhan, ou Aulie-Ata, o mesmo que deu nome à cidade no passado. Aulie-Ata, ou Santo Pai, foi um rei local da dinastia. Seu mausoléu foi construído originalmente entre os séculos XI e XII. O outro teria os restos de um governador mongol local, morto em 1267, e foi reconstruído no século 19. Ambos estavam fechados (não fui capaz de ver se tinham tumbas mesmo) e apresentam fachadas simples, de tijolos. Ambas aparentando terem sido construídos semana passada, tamanho o esmero na reconstrução. Edificações assim são a alma desta terra, são o lembrete do passado e o orgulho de todos. Pena que sejam tão poucas as construções assim em Taraz, e todas estejam tão reconstruídas, tão "atualizadas". Não senti muita coisa nesses mausoléus.

Por outro lado, atrás de um deles há uma mesquita originalmente erguida entre séculos IX a XII, evidentemente também reconstruída depois. Nela, encontrei um mundo, ecos de um passado distante. Tetos baixos de madeira, escuridão, os tapetes macios no chão, apenas um mulá perdido em orações num canto. Lá fora, o Sol das 11h da manhã, já feroz. Dentro, a sombra fresca, quebrada apenas por algumas lâmpadas, aqui e ali.

O jovem mulá, seu rosto com feições quase invisíveis, se vira para mim, propõe uma prece. Eu e uma família que lá estava - mãe, pai, criança de colo - nos calamos, o mulá olha para o teto. Seu árabe flutua no ar, vira uma melodia, se transforma nos ecos.

Meditei por 20 minutos. A reza, meu mantra.

Mais da alma ancestral de Taraz me esperava a 18 km dali, já fora da cidade. Encontrei um ponto de táxi compartilhado e peguei uma estrada que segue em direção a Shymkent, onde eu iria dormir naquela noite. O táxi me deixou num povoado poeirento, sufocado pelo Sol. Uma hora da tarde. Apenas casas muito simples, zona rural. A passos lentos, castigado pela luz, venço uma rua de terra que sai da rodovia. As gotas de suor já caíam da minha testa quando os dois mausoléus que eu procurava aparecem, milagrosamente emoldurados por flores.

A lenda por trás do lindíssimo mausoléu de Aisha Bibi é intimamente ligada à história de Kharakhan, o do mausoléu em Taraz. Há versões diferentes, mas todas trazem a temática universal do amor proibido. Certa vez, no ano de 1080, Kharakhan teria feito uma viagem a Samarkand para se encontrar com o líder local. Lá, se apaixonou por uma linda jovem, Aisha, que por acaso era filha do líder. A paixão foi recíproca, e Kharakhan pediu a mão da menina ao pai, que se recusou a aceitar. Após juras de amor eterno, Kharakhan retornou a Taraz. O tempo passou e, em determinado momento, doente de amor, Aisha decide pedir ao pai mais uma vez que a deixasse se juntar ao seu amado. Com a teimosia do pai em falar não, ela decide fugir, juntamente com sua inseparável dama de companhia, Babaji Khatoun. Após uma longa viagem, já se aproximando de Taraz, a tragédia ocorreu. Aisha foi picada por uma cobra (ou teria sucumbido ao cansaço) e, sentindo sua morte, pediu a Babaji Khatoun que cavalgasse o mais rapidamente possível a Taraz para avisar ao seu amado o ocorrido. Kharakhan correu para o local e teria tido ainda tempo de se casar com Aisha antes da morte da amada. Arrasado, o rei decidiu construir no local um mausoléu para ela. Uma versão da lenda diz que, depois, Kharakhan nunca mais se casou, até a sua morte, com mais de 100 anos.

Mais de 50 padrões geométricos estão representados na fachada de terracota da impressionante edificação, um cubo de uns quatro metros de altura com um teto cônico. É possível perder uma hora apenas olhando cada padrão, admirando o capricho do artesão responsável pelo tesouro. Ao lado, mais simples, mas igualmente elegante, foi erguido o mausoléu de Babaji Khatoun, com seu teto mais trabalhado, como uma rosa dos ventos. Os dois mausoléus, evidentemente restaurados, foram datados como sendo do século XI ou XII. Seus estilos, especialmente o de Aisha Bibi, guardam uma impressionante semelhança com o que talvez seja a mais conhecida edificação da era Samanida, o mausoléu de Ismail Samani em Bukhara, do século X. A fachada com ricos detalhes chama a atenção pela ausência de azulejos ou superfícies coloridas com porcelana, que se tornariam a marca registrada da arquitetura timurida (a das cúpulas de azulejos azuis de Bukhara e Samarkand), a partir do século XIV.

Em toda esta região, o Islã é misturado com tradições locais que antecedem a chegada dos árabes, no século VIII. A reverência a santos, por exemplo, algo que não existe num Islã mais conservador. Várias famílias me acompanham dentro do mausoléu de Aisha Bibi. Elas mostram uma reverência profunda a ela, evidente pelas orações, pelo olhar. Acompanho tudo em silêncio. Após uma prece, o líder da oração, um senhor austero e de barba, se aproxima de mim. Sob a tumba de Aisha, um caixa de pedra em uma plataforma elevada, haviam sido colocados panos simples de algodão branco. Ele me dá um, sem eu pedir. Para dar sorte ao viajante, diz. Sorri para mim.

Uma forte senhora de uns 50 anos, com um véu colorido cobrindo a cabeça e seus dentes de ouro dominando a boca, me pergunta em inglês se sei falar inglês. A senhora logo me cativou com seu carinho. Me perguntou de onde eu vinha, para onde eu ia. Conversamos calmamente e longamente ao sair do mausoléu usando uma bizarra mistura de inglês e russo.

A senhora e uma amiga dela insistem em me levar ao ponto de ônibus, na estrada. No caminho, me falam com imenso afeto de Aisha Bibi, de como a fé as tinha ajudado com problemas de saúde e como a fé iria me ajudar, agora que eu tinha visitado o mausoléu. Disse a elas que pedi à santa que me ajudasse a falar russo, que me desse força na jornada, que me afastasse de encrenqueiros alcoolizados e de problemas de saúde. Que protegesse minha família tão longe, e desse a ela a certeza no coração de que eu estava bem.

Amarrei o pano branco ao redor do pescoço, como se fosse uma echarpe.

Coincidência ou não, logo após fazer isso surgiu na estrada o meu próximo meio de transporte: uma lotação indo para Shymkent - com todos os lugares vazios. O motorista da van, de bigode, suadíssimo, sorriu e me pediu 700 tengue pelas 3 horas de jornada. 700 era quanto eu havia pago de Taraz à cidadezinha do mausoléu de Aisha Bibi, uma distância muito menor. Pulei para dentro.


* * *

"Bem-vindo (ao) Texas" é o que dizia o adesivo colado na parte de trás do ônibus (uma velharia certamente trazida do estado americano) que encontramos na periferia da Shymkent.

O calor continuou imenso, desértico, em todo o caminho, durante o qual o motorista e eu viramos velhos camaradas. Uma pessoa de alto astral e curiosíssima em saber mais sobre meu mundo, como quase todos por aqui. As perguntas foram se desenrolando como de costume, sobre meu estado civil e meu salário, curva após curva. À esquerda, uma reserva natural em algum ponto da fronteira separando o território cazaque do Uzbequistão, nas cercanias de Tashkent.

Em Shymkent, dei mais um passo na minha busca febril pelo pior hotel da Ásia Central. Encontrei um lugar maluco. A entrada do hotel Turist estava parcialmente reformada. O lugar, levando em conta a fachada, parecia bem razoável. Sugeria um três estrelas, talvez quatro, com recepção bem limpa e acabamento de luxo no chão e nas paredes. A suspeita me surgiu ao ver os pontos de infiltração no teto que haviam certamente feito descascar e cair partes da pintura. Conclusão: tratava-se de um hotel da era soviética que estava sendo renovado para os novos tempos.

Pedi um quarto barato, o mais barato, para passar três noites. A senhora cazaque de 50 anos e sobrepeso sorriu secamente, me acompanhou por um corredor escuro, cada vez mais escuro, no andar térreo mesmo. Encontramos uma porta pintada recentemente com um número, 4, escrito à mão com tinta branca. A maçaneta e a fechadura eram ainda velhas. A mulher, forte, custou em abrir a porta. Só com um tranco mesmo.

O quarto era um completo e absoluto show de horrores (veja abaixo um vídeo em inglês em que mostro o lugar). Difícil escolher por onde começar a descrever. O local cheirava a mofo. As paredes estavam todas arranhadas com nomes e dizeres. Pelos cantos, poeira, moscas mortas. Uma cama de solteiro com colchão deformado por décadas de uso. Roupa de cama esburacada. O chão parcialmente coberto por algum tipo de plástico que estava descascando. O armário de madeira completamente gasto, velho, impossível fechar a porta dele sem um calço de papel para prendê-la, com um centímetro de pó por dentro e por fora. Teias de aranha no teto e ao redor da cama. Um buraco com uns 15 centímetros de diâmetro bem ao lado da cama, na parede. Uma janela que dava para um lugar escuro e molhado. Paredes cheias de marcas de mosquitos esmagados. Nenhuma tomada funcionando. No banheiro, vazamentos, azulejos faltando na parede escurecida pelo limo e deixando à mostra a tubulação, mais teias de aranha no teto.

Vários lados positivos, porém. O primeiro - era baratíssimo. Dois mil tenge (aproximadamente US$ 6) por noite com café da manhã incluído e (um incrível) chuveiro quente. Não titubeei. Imaginando que nesta região do país o Turist seria uma excelente base, paguei por quatro noites, de uma vez só, ao fazer o check-in.

Pouco após minha chegada, tive tempo apenas para um banho rápido, e Rustem chegou. Rustem é um morador de Shymkent de uns 30 anos que eu havia conhecido pelo Couchsurfing e de quem rapidamente fiquei amigo, com muitas trocas de mensagens pela internet. Meu plano inicial era ficar em sua casa na cidade, mas ele logo me avisou que infelizmente não seria possível, já que na mesma época ele já estava recebendo parentes em seu lar. Ainda assim, combinamos de nos encontrar, ele prometendo me ajudar a conhecer a cidade. Nos encontramos na recepção do Turist.

Rustem chegou com seu moderníssimo Lexus prata. Fã de carros e de cachorros, ele me cativou com seu sorriso fácil e o grande orgulho de sua Shymkent. Nem muito alto nem baixo, as feições típicas daqui - o meio do caminho entre um turco e um mongol, cabelos pretos, olhos ligeiramente puxados. Havia estudado relações internacionais em Almaty, vivendo lá por dez anos antes de voltar à cidade de origem para trabalhar no negócio de distribuição de salgadinhos e doces da sua família.

Os anos de estudo deixaram uma grande marca em Rustem - além de falar inglês muito bem, fala turco, uzbeque e, é claro, cazaque e russo. Me contou de seu encontro com outros viajantes que conheceu por meio do Couchsurfing e de seu desejo de viajar mais - próximo sonho: Índia. Falamos sobre o mundo, falamos sobre Almaty, falamos sobre Shymkent. Sobre a riqueza de Shymkent, sobre o lado moderno de Shymkent. Depois de tomarmos um café em um café chique como os que conheci em Almaty, ele foi me mostrar este lado moderno. Cruzamos a noite por umas duas horas - eu, lutando contra o sono. Com seu carrão, acelerava sem dó em algumas amplas avenidas. Me levou a um lindo salão de festas, todo decorado de forma luxuosa, onde muitos casais escolhem fazer suas festas de casamento. Curioso. Fiquei pensando: a festa de casamento é algo tão importante nesta sociedade que, ao apresentar sua cidade a um estrangeiro, o local escolhe me mostrar, com orgulho, um salão de festas preparado para um rega-bofe. Nunca faria isso se alguém viesse a São Paulo e eu fosse o anfitrião.

Gostei do salão, de tudo. Nas ruas, à primeira vista, Shymkent me apareceu decorada com luzes coloridas, cheia de carros, viva, vibrante. Essa Shymkent de Rustem me recebeu rica, me lembrou uma cidade americana. Talvez até uma cidade texana.

Shymkent, 3/9, 17h20

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1 comment:

  1. The hotel room was awful, Rafael, if I knew how bad it was I would book a room in a nicer place. Rustem

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